23. Conjunções Filosóficas Luso-Brasileiras
COLECÇÃO LUSÍADA
Maria Helena Varela
Nº 23 | 297 páginas | 2002
Formato: 160 x 230 mm
P.V.P. 17,00€
Mais informações:
info@fundacao-lusiada.org
PREFÁCIO
«O pensamento da autora gira ao redor de um conceito novo, por ela introduzido, o conceito de heterologos. Segundo ela, o logos português é um heterologos. Não somente razão outra, diferente (héteros), como, principalmente, a razão das diferenças, aberta à infinita diversidade e pluralidade do real, estando este tipo de razão, de certo modo, presente em todas as partes do mundo que falam o português. Contra o logos unívoco predominante no Ocidente desde a Grécia, que apaga a diferença e a multiplicidade sob a capa cinzenta da razão pura, da identidade e imutabilidade, o espírito lusitano parte para a descoberta da inesgotável variedade dos seres, seja no espaço geográfico, seja no antropológico, no social e no cultural. Não se diga que os portugueses são avessos à especulação filosófica. Ocorre que seu logos é outro (héteros), e outra também a sua filosofia. O pensamento mais original e autêntico em língua portuguesa está implícito nos grandes poetas e prosadores, tais como Sampaio Bruno, Euclides da Cunha, Fernando Pessoa e Guimarães Rosa, autores estudado em profundidade no mencionado livro, sendo os dois últimos retomados em alguns ensaios de Conjunções filosóficas.
Na presente obra, aplicando o mesmo conceito às particularidades da cultura portuguesa e brasileira, Maria Helena ratifica e explicita o que ela entende por heterologia: “Incapaz de cristalizar na solidez dos sistemas, o nosso pensamento tornou-se um pensar-sentir, mais poético do que noético, mais hermenêutico do que reflexivo. Filosofar é mais pensar entre e como do que porque ou para que, já que, em vez de reflectirmos sobre conceitos e representações, criamos por afectos as nossas singularidades, preferindo pensar sentindo, a pensar apenas, sendo por isso, talvez, os poetas filósofos, na errância metafísica da sua razão poética, os grandes marcos heterológicos do nosso pensamento. Daí, a natureza complexa, e polimorfa, fluida e abrangente do pensamento português, nele coexistindo, paradoxalmente, o positivo e o oculto, o cientismo e a transfiguração mitopoética, a razão e o mistério, como se essa conjunção de opostos fosse, uma vez mais, a marca de originalidade da nossa atlanticidade finistérrica.
Em suma, Portugal é o mergulho vertiginoso na distância, no ilimitado, na lonjura; o impulso da transcendência além do horizonte, a busca e o nomadismo sem fim nem ponto de chegada. Navegar é preciso, viver não é preciso. A aventura portuguesa é tecida de errância, interação com o oposto e com o diverso, mestiçagem e metamorfose radicais. Fernando Pessoa – atesta a autora – fez da viagem, em sua obra, “uma espécie de Weltanschauung simbólica da portugalidade”. E seu génio heteronímico, sua capacidade de “outrar-se” nas mais diversas direcções é a expressão literária mais rica e fecunda do heterologos, o logos da pluralidade e da diferença, contraposto ao logos helénico da identidade e da invariação.»
Gilberto de Mello Kujawski